Avanços tecnológicos e diminuição de custos tornaram iniciativas independentes mais viáveis.
Agência Notisa - Publicado na revista Gestão & Produção ano passado, o artigo "A produção independente e a desverticalização da cadeia produtiva da música" mostra como, nos últimos anos, a indústria da música se reformulou de maneira a permitir um espaço relevante para iniciativas menores, mesmo sem o apoio de grandes gravadoras.
Segundo o autor Davi Nakano, doutor em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo, "a evolução da cadeia produtiva da música reflete o crescimento e a diversificação do mercado de entretenimento, ao mesmo tempo em que ilustra os impactos da evolução tecnológica na produção artística". A indústria musical teve que apresentar adaptações não só às novas tecnologias com destaque para a possibilidade de compartilhamento sem necessidade de um suporte físico, através de arquivos como os mp3s -, mas também a uma reconfiguração da própria escala de produção, que passou a contar com mais atores além de apenas gravadoras de maior porte.
Dessa forma, nasceu a possibilidade de surgimento e manutenção de empresas que atuem de forma diferenciada destas gravadoras tradicionais, coisa até então impensada. Como exemplo, o autor detalha duas empresas independentes brasileiras, que ele chama de Empresa A e Empresa B.
A Empresa A, diz no artigo, se autodenomina "agência de produção cultural". Seu grande diferencial é o fato de, ao contrário de empresas tradicionais, não ter o grosso de sua renda fundamentada na venda de CDs. "Enquanto para as gravadoras tradicionais a produção e venda de suportes físicos representa a maior parcela do faturamento, exigindo investimentos para o lançamento de novos títulos e uma administração voltada para a manutenção de um volume de vendas constante, capaz de pagar os investimentos realizados, no caso da Empresa A, uma das principais atividades é a prestação de serviços de produção, distribuição e divulgação de álbuns para os músicos", explica o autor.
A configuração de uma empresa como esta só foi possível graças às facilidades de montar pequenos estúdios caseiros, ou mesmo com a utilização apenas de computadores, onde músicos podem gravar suas composições sem o intermédio de terceiros. Mesmo assim, é difícil para o artista se estabelecer como 100% empreendedor, porque "em primeiro lugar, muitos artistas desconhecem os detalhes das atividades do processo de produção e não possuem os contatos comerciais para coordenar a elaboração do seu álbum, o que faz com que muitas iniciativas de produção individual terminem em um produto caro e de qualidade insatisfatória, destaca Davi. Dessa forma, a Empresa A atua como um "guia", prestando serviços de produção e posicionamento mercadológico ao artista de maneira a promover "capacidade de coordenação", numa relação que o autor afirma se aproximar de uma "parceria".
A Empresa B, por sua vez, atua numa nova tendência do mercado, que é a troca direta com meios de comunicação. A iniciativa tem duas vias principais de negócios: "aqueles relacionados ao comércio virtual (pela internet); e os relacionados à oferta de conteúdo para empresas de telecomunicações", enumera o pesquisador no artigo. Na primeira categoria, há a loja virtual da empresa, de venda de músicas individuais ou álbuns inteiros em formato digital. Ao mesmo tempo, ela presta serviço para outras empresas, através da criação e manutenção de lojas de música virtuais feitas especialmente para elas. Agindo dessa forma, a Empresa B "representa duas tendências: a da cadeia de música cuja distribuição em formato digital por telefones móveis vem crescendo, como apontam dados nacionais e internacionais, e a da cadeia de telecomunicações, em que as operadoras passam a oferecer conteúdo além de serviços de comunicação a seus assinantes".
Lado a lado com iniciativas semelhantes às das Empresas A e B, o autor destaca o surgimento e popularização de gêneros musicais que não teriam espaço no antigo sistema de grandes gravadoras responsáveis pela decisão do que vai ou não ser lançado."O acesso facilitado às tecnologias de produção permitiu o crescimento da cena independente, o surgimento da figura do artista-empreendedor, e mais ainda, permitiu que parte da produção musical fluísse de forma espontânea e descentralizada em nichos de mercado, criando públicos e artistas à margem do mainstream como, por exemplo, o tecnobrega no Pará", resume o pesquisador.
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